Terceiro romance de uma trilogia que levou vinte anos para ser encerrada, Xibio traz a afirmação: “Marido é aquilo que vai te trair um dia”. A certeza da traição acompanha a personagem, viúva de um homem a quem não amava mais, de quem nunca viu o corpo. Ouviu dizer que morrera, assim como ouviu dizer sobre as fantasiosas traições que lhe atribuíam a este mesmo marido, enquanto casados: “O que sabiam se nada houve?”. Provavelmente, nada sabiam. Maledicência gratuita capaz de ferir um caráter, acabar com uma vida.
Luiz Renata traça com delicadeza a trajetória de um casal que enfrentou, muito cedo, um episódio que o marcaria para sempre, pela ausência do não-planejado – a protagonista relembra com clareza e detalhes o dia em que, ainda na faculdade, ela e o companheiro decidiram a trajetória de seu relacionamento, uma decisão que depois seria questionada nos momentos de solidão acompanhada. O marido não tinha tempo para ela, nem o interesse que demonstrava pelos seus alunos, o interesse que um rapaz mais novo, filho de uma prostituta, mais tarde demonstraria, remexendo desejos e segredos, sem se esforçar para esconder as cartas marcadas de seu baralho: duas damas.
Uma vida de perdas, de partidas, de amputação de sonhos. Esse é o universo da protagonista. Um universo povoado de loucuras, não exatamente vividas, mas imaginadas, fantasiadas, escritas. “Leio essas loucuras que escrevi naquele tempo em que as coisas não iam bem entre a gente”. É para Pedro que ela escreve. Pedro, o marido, que era o cara, com quem ela imaginou um futuro que seria um todo, e não parte. A vida quis que fosse parte, sim, como parte o rapaz não nomeado, agraciado com alguns momentos de intimidade, ainda antes de começar a olhar pela janela, sonhador, para o mar. As cartas das duas damas sobre a mesa.