Ana Libânio,escritora: do livro rasgado pelo pai de uma leitora e xingamentos até O futuro é feminista

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Ana Libânio, escritora e criadora do projeto O futuro é feminista
Qual o grau de necessidade da literatura – escrita ou leitura – para você, em termos de prazer e sentimento de pertencimento?
Acho essencial. A representatividade passa por aí. Quando lemos histórias com as quais nos identificamos, entendemos que a vida que vivemos é possível. Ou seja, é uma representação da realidade de que até então duvidávamos. É o que vivem as chamadas “minorias”. Assim, para mim é essencial escrever representando as realidades possíveis ou, como gosto de dizer, as diversas vidas vivíveis. Acho que é responsabilidade minha ser fiel à diversidade.
Que espécie de conexões e engajamentos a produção literária proporcionou a você?
Já recebi várias mensagens de pessoas que diziam o quanto se sentiram felizes com o que escrevi. Em geral, exatamente devido à representatividade. Mas também recebi mensagens de tristeza – por exemplo a garota cujo pai rasgou o livro “A história de Carmen Rodrigues” (o primeiro romance que escrevi e que conta a história de um amor lésbico em um contexto de luta feminista). E também já passei pela experiência de pessoas me xingarem.
Sou ativista do feminismo visionário. Acredito que o amor é a solução e que temos que construir um futuro. Ou seja, é muito provável que eu não mude a mentalidade do pai que rasgou o livro que escrevi nem do homem que me xingou de aberração, demônio e outras coisas. Mas eu posso caminhar com a filha desse pai e posso transformar o ódio daquele homem, assim espalho um pouco de amor e vou construindo um futuro melhor. Minha produção literária é meio de construção desse futuro, mas é também meio de entretenimento, claro. Alguns textos são pura diversão!
Que olhares você passou a ter de si mesmo(a) no momento em que sua obra ganhou o mundo?
Quando uma obra “ganha o mundo” a gente passa a se enxergar pelos olhos do outro também. Em 17 (Quintal Edições, 2018), que é uma coletânea de contos diversos, o leitor tem contato com, digamos, várias facetas desta escritora. É um livro que representa essa ideia da diversidade de vidas vivíveis. Acho que sou diversidade! Não à toa digo que sou (e tenho tatuado no braço) “queer as life”.